HAND OVER FIST



VOLTAR PARA "PRESTO"
VOLTAR PARA DISCOGRAFIA
VOLTAR PARA LETRAS E RESENHAS

RED TIDE  HAND OVER FIST  AVAILABLE LIGHT


HAND OVER FIST

hand over fist
paper around the stone
scissors cut the paper
cut the paper to the bone
hand over fist
paper around the stone
scissors cut the paper
and the rock must stand alone


I could disappear into the crowd
but not if I keep my head in the clouds
I could walk away so proud
it's easy enough if you don't laugh too loud

I thought I was okay alone
wait for the postman and the telephone
lost in a world of my own
I thought I could run alone
thought I could run through the night alone

Hand over hand
Doesn't seem so much
Hand over hand
Is the strength of the common touch


you talk as we walk along
you never imagined I could be so wrong
humming your favorite song
you know I've hated that song for so long

how can we ever agree?
like the rest of the world
we grow farther apart
I swear you don't listen to me
holding my hand to my heart
holding my fist to my racing heart

Take a walk outside myself
In some exotic land
Greet a passing stranger
Feel the strength in his hand
Feel the world expand

I feel my spirit resist
But I open up my fist
Lay hand over hand over
Hand over fist
MÃO SOBRE O PUNHO

mão sobre o punho
papel em volta da pedra
tesoura corta o papel
corta o papel profundamente
mão sobre o punho
papel em volta da pedra
tesoura corta o papel
e a rocha deve ficar sozinha


eu poderia desaparecer na multidão
mas não se mantiver minha cabeça nas nuvens
poderia ir embora muito orgulhoso
isso é bem fácil se você não rir alto demais

achei que estava bem sozinho
aguardando o carteiro e o telefone
perdido em um mundo só meu
achei que poderia correr sozinho
achei que poderia correr sozinho pela noite

Mão sobre mão
Não parece muito
Mão sobre mão
É a força do toque comum


você fala enquanto caminhamos
nunca imaginou que eu pudesse estar tão enganado
cantarolando sua canção favorita
você sabe que odeio essa canção há tanto tempo

como podemos sempre concordar?
como o resto do mundo
nós crescemos afastados
juro que você não me escuta
segurando minha mão para o meu coração
segurando meu punho para o meu coração disparado

Dou um passeio fora de mim
Em alguma terra exótica
Cumprimento um estranho que passa
Sinto a força na mão dele
Sinto o mundo expandir

Sinto meu espírito resistir
Mas abro meu punho
Coloco uma mão sobre a outra
Mão sobre o punho


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Um jogo universal inspira metáforas sobre os impasses das relações interpessoais

"Hand Over Fist" é a penúltima canção do álbum Presto, uma peça de atmosfera bastante positiva e intensa que utiliza a figura de um famoso jogo universal para questionar o afastamento entre as pessoas, quando estas deveriam crescer juntas quebrando barreiras para pela proximidade.

"Se há algum traço lírico identificável aqui é minha utilização da ironia, que é injetada por um personagem que atua através da letra", explica Peart. "'Hand Over Fist' mostra duas pessoas que discutem enquanto andam pelas ruas, com o personagem principal dizendo coisas que deveriam ser irônicas".

Um fato curioso é que "Hand Over Fist" seria a primeira canção instrumental do Rush desde "YYZ", antológica criação dos canadenses do álbum Moving Pictures, de 1981. "Planejávamos trazer uma canção instrumental nesse álbum mas, durante o processo de reunião das composições, Neil ainda continuou a nos enviar letras", recorda Geddy. "Fomos poupando todos esses bits para uma instrumental e, quando nos deparamos com esse trabalho lírico, vimos que era muito adequado para essa faixa instrumental. Dessa forma, decidimos mandar esse plano pro inferno para podermos utilizá-lo, com a investida se transformando em 'Hand Over Fist'".

"Hand Over Fist" pode ser observada como um dos mais fortes exemplos da mudança gradual de perspectiva lírica pela qual a banda passava ao longo da década de 1980, ingressando de fato nas pontuações sobre as relações entre as pessoas e o meio, sempre partindo do já tradicional ponto de vista da individual. Percebemos aqui claramente a autossuficiência dando lugar à necessidade da interdependência, refletindo um amadurecimento intelectual de Neil Peart e também um retrato da confiança adquirida pelos integrantes da banda, após quinze anos de carreira.

A canção, um hard rock vigoroso e direto que, assim como a anterior "Red Tide", intercala momentos poderosos com trechos mais melódicos e sutis, mostra novamente a versatilidade, a competência e a sensibilidade de seus instrumentistas, trazendo seu tema baseado na alegoria de um famoso jogo de origens orientais, o Pedra, Papel e Tesoura (também conhecido no Brasil como Joquempô).

Pedra, Papel e Tesoura é um jogo de mãos geralmente disputado por duas pessoas, onde os adversários mostram, simultaneamente, uma das três formas possíveis de mãos estendidas: a "pedra" é representada pelo punho fechado, a "tesoura" por dois dedos esticados e separados e o "papel" pela mão aberta com os dedos esticados. O objetivo é escolher um dos gestos que derrote o oponente, com os mesmos funcionando da seguinte forma: a "pedra" quebra a "tesoura", a "tesoura" corta o "papel" e o "papel" cobre a "pedra".

Tipicamente simbólica, as mãos em disputa utilizadas por Peart expõem alguns dos vários conflitos humanos no jogo da vida, levando à categorias de interação social que se associam ao isolamento, ao orgulho, à cooperação entre as pessoas e a própria dinâmica dos relacionamentos. As maneiras interpretativas são amplas, porém, naturalmente, podemos compreender que os punhos fechados simbolizam sentimentos como a raiva, ressentimentos e combatividade e a "tesoura" as palavras amargas, ideias intolerantes e as ações nocivas de conduzem à separação. A "pedra", portanto, reflete um coração duro e amargurado que não pode ser atingido, exceto por uma mão afável, pacífica e receptiva (no caso, o "papel").

Novamente, Peart constrói cenas de uma discussão entre duas pessoas para transpor suas ideias. O isolamento é um dos assuntos mais amplamente tratados em "Hand Over Fist". Não é difícil compreender que o homem é um ser político e social - ele não é uma ilha. A experiência humana passa, essencialmente, pela convivência em grupo - a troca constante e contínua pela qual progredimos. Essa relação tão vital nos conduz à correção de erros, aprendizado e acerto de diálogos, ou seja, atributos necessários para nosso desenvolvimento como indivíduos e como espécie. Outro ponto na canção são as discordâncias que, inevitavelmente, surgirão nos mais variados âmbitos e momentos. Sempre iremos nos deparar com pontos de vista opostos e uma enorme variedade em torno da maioria dos assuntos. Os gostos e inclinações, devido às experiências e influências tão díspares que recebemos ao longo da vida, jamais se mostrarão totalmente compatíveis. Por fim, temos também as falhas de comunicação em nossas relações já estabelecidas, estas que podem prejudicar e muito nosso caminhar ao lado de outras pessoas.

"Bem, a letra dessa canção traz um tipo de abstração", diz Geddy. "É o jogo das crianças que você joga fazendo o punho, os dois dedos como uma tesoura e o papel - o papel cobre a rocha no joguinho. Ela se tornou um tipo de cantiga de roda que elaboramos para a canção 'Hand Over Fist'. Acho que há uma grande quantidade de analogias que você pode fazer com esse tipo de coisa - o que representa uma pedra em sua vida, o que seria o papel e tudo isso".

A imagem do Pedra, Papel e Tesoura foi utilizada no bumbo do kit de bateria Ludwig de Peart, ficando com a banda durante toda a turnê do álbum. Não é difícil imaginar a possível intenção de retratar a bandeira das novas e claras intenções do grupo naquele momento. Assim como as faixas "Entre Nous" (do álbum Permanent Waves, 1980), "Emotion Detector" (de Power Windows, 1985) e "Open Secrets" (de Hold Your Fire, 1987), "Hand Over Fist" também lida de forma aberta sobre a quebra de barreiras que tanto dificultam as relações e cooperação entre os homens - porém, dessa vez, de forma ainda mais contundente.

"As imagens nos meus bumbos vieram da arte de Presto, uma do tipo "secundária" que aparece no interior do encarte (da mesma forma que fizemos tantas vezes antes, como o ovo e o grampo em Grace Under Pressure ou - aqui está uma dica analítica - com a capa de Hold Your Fire, no qual estávamos confusos sobre colocar a imagem secundária em primeiro lugar, uma vez que as esferas vermelhas que representam as bolas de fogo ficassem por dentro (...). Claro, a metáfora da tesoura, do papel e da pedra vem da canção 'Hand Over Fist', e achamos que a mesma daria uma bela imagem. Assim, decidimos por usá-la em algum lugar, e entendi que seria um dispositivo legal para as peles dos bumbos".

A composição defende o quão benéfico e essencial pode ser o relacionamento com outras pessoas. "Hand Over Fist" enfatiza a força do contato comum e cotidiano e a rica oportunidade de se conhecer alguém, mesmo que para isso o indivíduo precise lutar contra resistências como a timidez, a apatia, a insegurança, medos e, em graus mais graves, fobias. Para Peart, o fato de encontrar pessoas traz o potencial de expansão do mundo, materializado no compartilhamento de experiências, ideias, inclinações, crenças e motivações. Assim, o personagem da canção comenta seus impasses relacionais e seu coração fechado, reconhecendo que precisa enfrentar dramas pessoais para se tornar um pouco mais acessível.

Por mais que "Hand Over Fist" retrate uma mensagem muito relevante e atemporal, Peart novamente se afasta das declarações diretas em suas investidas, se dedicando a ilustrar seus pensamentos através das sensações que suas inspirações externas possam causar nos ouvintes. "Penso mais em impressões, imagens e uma lógica interna em cada frase ou verso".

"Hand Over Fist", assim como tantos outros momentos em Presto, trata de relações, ligações, compreensão e de abertura para o mundo. O personagem da canção mantém os punhos cerrados, e seu desafio é abri-los para apertar mãos, interagindo com outras vidas e crescendo nesse processo. As mãos dadas, portanto, afastam as disputas, nos rendendo um novo horizonte de possibilidades.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

COBURN, B. "Geddy Lee On Rockline For Presto". Rockline. December 4, 1989.
PEART, N. "Rush - Roll The Bones". Rush Backstage Club Newsletter. October 1991.
SHARP, K. "Something Up Their Sleeves". Music Express - Vol.14, Issue 144. February 1990.